sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ENCHENTES: CATÁSTROFE PODERIA SER MAIOR

Valdir Cardoso (*)

Catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas em conseqüência da degradação do meio ambiente e ausência de obras de contenção de enchentes nos períodos chuvosos castigaram não só Campo Grande como também Belo Horizonte (MG), Jundiaí (SP) e outras inúmeras cidades brasileiras. Os prejuízos materiais sofridos pela população e o desaparecimento de um motociclista dragado pelas águas que inundaram a região do Bairro Universitário, são maiores do que o dinheiro investido pela prefeitura, recurso, na verdade, oriundo em grande parte dos cofres da União.



Forte chuva causa inundações em vários pontos da Capital. (Foto: Reprodução do Facebook)

Em Campo Grande já foi detectado há tempos que as obras de pavimentação da maioria dos bairros da região norte, sem o cuidado com a implantação de uma rede de captação de águas pluviais e obras de contenção e, principalmente, a falta de cuidado da administração pública diante do assoreamento do lago existente no interior do Parque das Nações Indígenas e a necessidade, também comprovada através de estudos técnicos, de implantação de outras duas ou três áreas rebaixadas (áreas de sedimentação) logo abaixo da nascente do córrego Prosa, localizada dentro da área de preservação do Parque dos Poderes.

Estas medidas diminuiriam muito os riscos de enchentes na região do Shopping Campo-Grande como também na Avenida Fernando Corrêa da Costa, que passaram a ocorrer somente após a constatação do assoreamento do grande lago do Parque das Nações Indígenas, sem que providências tenham sido tomadas no passado.

A origem do assoreamento – nome técnico que se dá ao processo acelerado da sedimentação de detritos em áreas rebaixadas, caso específico dos lagos- acontece em razão de um processo natural, decorrente da erosão que é agravada e acelerada devido a vários fatores, dentre os quais a ocupação do espaço geográfico pelo homem, falta de cuidado com o meio ambiente e a cobertura asfáltica que impermeabiliza o solo, bem como a ligação do esgoto doméstico às galerias de águas pluviais, fato corriqueiro principalmente nos bairros e vilas que margeiam os córregos Prosa, Segredo e Ahandui, onde a população sempre utilizou as galerias para escoamento de todo tipo de detritos.

É óbvio que ouvimos técnicos especialistas sobre o assunto e tivemos também acesso a informações junto aos poderes públicos, para fazermos uma análise responsável, sem paixão, isto porque não é possível admitir que um prefeito que tem uma equipe, que ele diz ser competente, não tenha sido alertado de que no período de fortes chuvas não era o momento adequado para iniciar e não concluir uma obra de contenção, que acabou por agravar o problema.

Na verdade não é hora de se criticar a atual ou administrações anteriores da Capital em virtude de uma catástrofe provocada por chuvas acima do normal, mas é bom que se diga que Campo Grande teve uma década perdida, em termos de saneamento básico, entre os anos de 1983 e 1993, quando os investimentos foram insignificantes e obras chinfrins – caso específico da canalização do córrego Prosa, na Avenida Fernando Corrêa da Costa - foram feitas a toque caixa, cuja vazão não suporta o volume que deságua no canal coberto que divide as duas pistas da citada Avenida- em saneamento, provoca, sem dúvidas, o alagamento na região do Shopping Campo Grande.  Outra obra da mesma época canalizou parte dos córregos Ahandui e Segredo, impermeabilizando o solo, ao longo da Avenida Ernesto Geisel.

Como este texto está voltado para um problema que aflige a todos os habitantes dessa cidade e não tem nenhum cunho político, sendo baseado apenas na vivência de um campo-grandense que acompanhou muito de perto o crescimento da capital sul-mato-grossense durante as últimas quatro décadas, é preciso afirmar que não adianta postulantes a cargos eletivos –  que não é o meu caso – tentarem tirar proveito de uma situação constrangedora pela qual passam os atuais administradores de Campo Grande, prefeito, vereadores e secretários municipais.

Por outro lado é preciso reconhecer que as ações iniciadas na administração do ex-prefeito André Puccinelli, antecessor de prefeito Nelsinho Trad, quando foi acelerado o processo de desfavelamento das margens do Córrego Ahandui e adjacências, forçando os moradores a se mudarem para casas construídas pela Emha – Empresa Habitacional do Município – evitou-se uma catástrofe muito maior que poderia estar ocorrendo nos dias de hoje, pois muitas famílias ficariam submersas nas favelas e inúmeras vidas preciosas seriam ceifadas, o que daria subsídios aos “políticos urubus” que viriam a público “comemorar”, em forma de lamentos, os efeitos da grande tragédia. Perderam a chance...

 E por não ter – e nem quero – procuração para defender este e muito menos aquele – posso afirmar que não é hora de jogar pedras, mas sim de recolhê-las para construir uma cidade melhor e livre das enchentes.

(*) O autor é jornalista e foi Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Saúde (MS), presidente da Câmara Municipal, deputado estadual e prefeito de Campo Grande. É editor do Site   http://www.ojornalms.com.br/

Um comentário:

  1. Quanto à obra de canalização do córrego prosa, é fato que antes de ser executada aquela região próxima ao fórum sempre transbordava e alagava a região! Na minha opinião (não sou nenhum técnico no assunto) essa obra deveria ser realizada em toda extensão do córrego prosa, e não somente, mas em todos o córregos da cidade, levando-se em conta todas as implicâncias ambientais disso!

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