sábado, 6 de junho de 2015

A INEXPLICÁVEL REJEIÇÃO AOS “TRAD’S”




(*) Valdir Cardoso

Algo que intriga os observadores mais atentos aos fatos que envolvem a política sul-mato-grossense é, com ressalvas, a grande rejeição atestada em pesquisas de opinião pública sofrida pelos outrora poderosos membros da família Trad –  o ex-prefeito Nelson Trad Filho, o “Nelsinho”, com bom trabalho à frente do Executivo da Capital por oito anos seguidos;  o deputado estadual Marcos Marcelo Trad, o “Marquinhos”, brilhante orador e parlamentar atuante no Legislativo estadual; e o advogado, ex-presidente da Seccional da OAB/MS, Fábio Trad, que durante quatro anos como deputado federal em Brasilia, foi referência nacional quando o assunto era, em seu único mandato eletivo (2011/2015), ética, competência e assiduidade nos trabalhos no Legislativo. Como integrante da bancada federal de MS em Brasilia, ele “perdeu” o “inho” – Fabinho – diminutivo do seu nome e ganhou notoriedade nacional, passando a ser o Dr. Fábio Trad, um dos mais atuantes parlamentares do Brasil.    
É inegável que individualmente cada um dos irmãos têm uma avaliação positiva junto ao eleitorado e formadores de opinião, mas quando são analisados como “um grupo ou clã”, a rejeição, até certo ponto inexplicável, vai às estratosferas. Nenhum herda os pontos positivos do outro, mas absorve os erros, tropeços e quedas de um como se fosse uma prática comum entre todos. 

A SOMA QUE DIMINUI...

Marcos, Nelson e Fábio Trad


Encontrar virtudes nos três tarimbados políticos e profissionais competentes não é difícil, tendo em vista  os ensinamentos éticos e educação de altíssimos valores que receberam do núcleo familiar somadas às experiências vividas desde o início de suas atividades laborais, mas também não se torna impossível encontrar falhas comportamentais, como em qualquer ser humano, até porque não absorveram grande parte dos predicados que tornaram o velho Nelson Trad em um homem transparente, sem ambições e acima de tudo leal aos seus companheiros políticos, sem nunca precisar recorrer às recomendações paternas, vindas do também saudoso Assaf Trad, para reafirmar que o cumprimento da palavra empenhada era um dogma que jamais deixaria de respeitar por toda uma existência. Simplesmente cumpria, sem fazer estardalhaço até porque entendia que este comportamento não é nenhuma virtude, mas sim uma obrigação daqueles que se tornam representantes de uma sociedade.

Certa vez, um curioso amigo da família indagou do então deputado federal Nelson Trad, durante uma reunião na Biblioteca do chefe do clã, qual o motivo da rejeição que começava a ganhar força em vários setores da comunidade contra as suas crias, ao que o sábio parlamentar respondeu também com uma indagação: “Estão reclamando que implantamos uma oligarquia? Seria a  primeira vez que se implanta tal sistema através do voto, da disputa eleitoral com aprovação popular”.
Talvez tenha faltado aos três a consciência de que deveriam descer do pedestal no qual foram colocados pelo eleitor e pelo voto direto. Faltou humildade, transparência nas atitudes  e reconhecimento que não existe ninguém insubstituível, que a fila anda e novas lideranças vão surgindo e aqueles que não formarem grupos coesos vão ficando para trás.

Um dos fatores que fez crescer a rejeição ao grupo pode ter origem também na inveja de outros “pimpolhos” que não conseguiram tanto sucesso, mesmo tendo como referência e sobrenome de figuras lendárias de nossa política, ou ainda pelo acumulo de representação popular em mãos de uma mesma família.  Nós últimos 30 anos o “Pai de todos”, Nelson Trad, que voltava  à atividade política, se elegendo deputado Estadual (1982), depois de amargar uma injusta cassação dos direitos políticos que durou 10 longos anos, começou a implantar o grupo familiar, através do filho mais velho, Nelsinho Trad, que – com a ajuda decisiva do então deputado André Puccinelli - se elegeu vereador pelo antigo PTB, sendo o mais votado no pleito de 1992. Reeleito em 1996, quando Puccinelli conquistou a prefeitura da Capital pela primeira vez, Trad Filho já estava pronto para vôos mais altos, se elegendo deputado estadual – sendo o mais votado - e preparando-se para ser io sucessor de Puccinelli, conquistando dois mandatos consecutivos ( 2004 e 2008).

Já em 2004, surgia Marquinhos Trad, depois de ser secretário Assuntos Fundiários, com excelente trabalho político-eleitoral à frente do órgão para o qual foi nomeado pelo então prefeito Puccinelli, gerando a partir daí uma enorme rejeição dentro do seu próprio partido, o PMDB, cujos concorrentes não aceitavam a candidatura do irmão do prefeitável Nelsinho na disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores. Não deu outra, Marquinhos foi o mais votado entre os mais de 300 concorrentes.

No terceiro mandato de deputado estadual, Marquinhos Trad, sempre com expressiva votação e tendo o pai como federal, se destacou no Legislativo, principalmente com atuação forte na defesa dos consumidores, mas deixou de lado o trabalho de conquistar adeptos entre os colegas de parlamento, tanto que hoje não conta com o apoio declarado de nenhum dos integrantes da casa. Não soube “ciscar prá dentro”, partindo para o confronto com a cúpula peemedebista, acreditando ser superior “ao tempo e ao vento”. No Legislativo municipal, conta com apoio do sobrinho vereador Otávio Trad, que se comparado ao meio esportivo ainda está na categoria sub-15, em seu primeiro mandato, apesar de bem articulado.      

ESTÁ FALTANDO ELE...

Na verdade, o que falta ao grupo Trad é um orientador quase pedagógico, que mostre o “caminhos das pedras”, sabendo que este é o caminho mais longo, estreito e cheio de armadilhas que só será percorrido com sucesso com muito trabalho, tendo como verdade absoluta o fato de que “Cateto fora do bando é comida de onça” e político sem apoio, respaldo de lideranças e estrutura não vai prá lugar nenhum.

O desejo de mudança que tomou conta de enorme parcela da população, desaguando na eleição contra tudo e contra todos que levou o advogado e radialista Alcides Bernal à Prefeitura da Capital nas eleições de 2012, sem estrutura partidária e recursos financeiros é um fato isolado e só pode ser repetido pelo próprio Bernal, caso concorra mais uma vez ao cargo hoje ocupado pelo seu ex-companheiro Gilmar Olarte. Esperar que o povo se una em torno de um nome forte como o de Marquinhos Trad, que deixando o PMDB e mesmo filiado a outro partido, com certeza de menor expressão, é como acreditar em “Mula sem Cabeça” ou Sacy Pererê, pois ele acaba levando consigo a “catinga” de 20 anos de poder... com o PMDB.


Nenhum comentário:

Postar um comentário