quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Delcídio ameaça processar quem veicular denúncia da “Carta Capital”


(*) Valdir Cardoso


Diante da repercussão da matéria de capa da Revista Carta Capital, que circulou no último final de semana, relatando que o senador Delcídio Amaral (PT/MS) provável candidato da oposição à sucessão do governador André Puccinelli (PMDB), teria seu nome relacionado como beneficiário da importância de R$ 50 mil em um documento que comprova a existência de um caixa 2 na campanha de Renato Azeredo (PSDB/MG) em 1998, onde aparecem os nomes de importantes figuras do PSDB de todo o Brasil, o parlamentar sul-mato-grossense se defendeu afirmando que não exercia atividade política na época.

Por outro lado, o senador, além de se defender do envolvimento no escândalo do “Valerioduto”, aproveitou para advertir, em tom de ameaça aos órgãos de imprensa independentes, estar “ tomando providências jurídicas que o caso requer” - não só em relação aos autores dos documentos que o incriminam-  e “também à revista (Carta Capital), mas, eventualmente, às suas indevidas repercussões”.

Senador deixa claro um recado à imprensa sul-mato-grossense
Mesmo usando uma linguagem baseada no “tucanês”, celebrizada pelo articulista José Simão, da Folha de São Paulo, deixa claro um recado à imprensa sul-mato-grossense e parece que todos entenderam, com exceção do SITE MIDIAMAX, pois o assunto que repercutiu intensamente por envolver um dos integrantes da representação de Mato Grosso do Sul no Congresso Nacional “passou em branco nas páginas dos jornais e nos noticiários das emissoras de TV do Estado. Isto teria ocorrido porque o envolvimento de políticos em ações criminosas já não representa nenhuma novidade ou ainda há órgãos de imprensa que temem a possibilidade do senador ser escolhido amanha para comandar os cofres estaduais? Fica a dúvida. 

AS INVERDADES DO SENADOR

O senador Delcídio do Amaral Gomez omite algumas verdades que somente uma parcela de bem informados sul-mato-grossenses conhece, principalmente quando afirma que em 1998 não tinha participação política. E como tinha!

Apenas para avivar a memória do leitor e do próprio senador, vamos aos fatos: Durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o senador Delcídio era diretor financeiro da Eletrosul (o “carguinho” sonhado pelo ex-deputado Dagoberto) e – ao mesmo tempo – presidia o Conselho de Administração da ENERSUL – antes da privatização – empresa que era comandada pelo então ex-deputado e senador Valter Pereira. Era o governo de Wilson Martins (PMDB).

Ao afirmar que em 1998 não era uma figura pública e que não participava da vida política sul-mato-grossense, o senador deve estar com amnésia em estágio muito avançado, ou brincando com a inteligência dos seus conterrâneos e que só merecem respeito aqueles que residem e investem em estados do sul-maravilha, principalmente em Santa Catarina.

Qualquer cidadão acima dos 30 anos minimamente informado e que reside em Mato Grosso do Sul tem conhecimento que o engenheiro Delcídio do Amaral Gomez, nascido em Corumbá e criado em São Paulo, retornou ao seu estado natal em 1996 para, como presidente do conselho de Administração da Enersul, comandar o processo de privatização da empresa. Ato contínuo assinou a ficha de filiação do PSDB, pasmem, com a presença do então todo poderoso ministro Sérgio Motta e da cúpula tucana que veio a Campo Grande para prestigiar aquele que deveria ser o candidato a governador do Partido na sucessão do peemedebista Wilson Martins. Neste caso NÃO HÁ CONTROVÉRSIAS, pois há fotos, vídeos e registro na imprensa escrita.

PRÉ CAMPANHA EM 1998

A partir daí o engenheiro percorreu várias cidades, dentre as quais Corumbá, Naviraí, Três Lagoas e Dourados, apresentando o seu plano de desenvolvimento como pré-candidato ao Governo do Estado pela coligação PSDB/PMDB,

A pré-candidatura de Delcídio pelo PSDB surgiu da cabeça de três influentes figuras da época: O juiz do TRT, Abdalla Jallad, genro do governador Wilson Martins, do presidente da Enersul, Valter Pereira de Oliveira, e do então deputado Flávio Augusto Derzi.

Sabem por que foram buscar uma figura nova, quase desconhecida?  Simples. Pesquisas encomendadas por todos os partidos mostravam que a maioria do eleitorado rejeitava os nomes de políticos antigos como Pedro Pedrossian e Lúdio Coelho. Queria renovação e ele era “o cara”.

Chegou a se reunir com a bancada governista na Assembléia Legislativa, formada por 19 deputados (muda o Governo, mas não muda a base) quando afirmou que teria R$ 30 milhões para a campanha. Foi um alvoroço: Vários parlamentares correram para suas bases e fecharam acordos já contando com a grana do novo patrocinador. Deu xabu. De Santa Catarina ele avisou:”a grana só sai depois das eleições” e ele precisava de um aval para fazer um empréstimo de R$ 8 milhões. Parlamentares se sentiram ludibriados e decidiram apoiar o também tucano Ricardo Bacha que foi para o segundo turno com Zeca do PT. As pesquisas estavam certas: Lúdio ficou fora da campanha e Pedrossian não conseguiu apoio para voltar ao Governo.

ENTRE BACHA E ZECA DO PT

No primeiro turno, “mineiramente”, o engenheiro que foi rechaçado pelo PSDB e pela bancada da base governista, acertou apoio ao candidato oficial, Ricardo Bacha, prometendo inclusive fazer parte da chapa de candidatos a deputado federal, desistindo poucos dias antes da convenção partidária.

Para o hoje senador Delcídio o 2º turno da eleição de 1998 foi realmente outra eleição: Depois das primeiras pesquisas que mostravam Zeca do PT com 62% da preferência do eleitorado, ele foi de “mala e cuia” para a campanha petista, quando se aproximou do mega empresário rural José Carlos Bunlai, participando inclusive da arrecadação de fundos para custear os gastos eleitorais. E as reuniões entre Delcídio, Zeca e o deputado federal eleito Bem Hur Ferreira eram realizadas na residência que ele passou a ocupar nos altos do Jardim São Bento, meses antes, quando era pré-candidato e precisava comprovar o domicílio eleitoral, pois quando vinha de Santa Catarina se hospedava em hotéis da cidade.

Depois da campanha vitoriosa de Zeca do PT, foi nomeado para uma diretoria da Petrobras, por indicação do ex-senador Jader Barbalho em conjunto com o deputado Flávio Derzi.

Já filiado ao PT foi convidado pelo governador para assumir a secretaria de Infraestrutura com o objetivo de torná-lo conhecido pelo eleitorado petista para disputar o Senado.

PELO SIM... PELO NÃO

O senador tem todo o direito de se defender e até o dever de provar a sua inocência, mas não deve correr o risco de ficar desacreditado ao escamotear a verdade. Pelo sim pelo não, ele jamais poderá esconder o seu passado de integrante do PSDB, agora se não foi beneficiado pelo esquema do “Valerioduto” conforme a publicação da Revista Carta Capital, deve mesmo partir para cima daqueles que fizeram a denúncia através de documentos. E o senador pode ficar tranqüilo que os seus “adversários” de Mato Grosso do Sul são tão incompetentes que não conseguem “plantar” notícias nem em jornais locais de pequena circulação. Portando se a matéria da Carta Capital, conforme ele sugere, foi “plantada” deve ser coisa que veio de cima... de “companheiros”.

(*) O autor é jornalista e foi presidente da Câmara de Vereadores da Capital, deputado /Estadual e prefeito de Campo Grande. É diretor do Site www.ojornalms.com.br e não é filiado a qualquer Partido Político.         

Um comentário:

  1. Muito alarde para publicação de suposta recepção de recursos por parte do senador, nenhuma comprovação é feita de especulação, outra coisa é afirmar que...Todo direito a responder tem o senador, antes que outros falem por ele, no Brasil denuncia quase tudo é permitido até reeditar o que não foi comprovado.

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