Valdir Cardoso//
Desde 1902,
quando os campo-grandenses foram às urnas para escolher o seu primeiro
prefeito, elegendo o empreendedor italiano de nascimento Bernardo Franco Baís,
que abriu mão do cargo permitindo a posse do seu vice-prefeito Francisco
Mestre, Campo Grande foi administrada por cidadãos que honraram o cargo para o
qual foram eleitos, nomeados ou que assumiram interinamente. Esta longa série foi interrompida em 2012, cento e dez anos depois, com uma eleição atípica onde onde o que valeu foi o desejo de mudança a qualquer custo... deu no que deu.
A prova de tal
assertiva está na comprovada aprovação popular que receberam nas urnas em
eleições posteriores ao exercício do cargo, uma vez que vários foram eleitos
para nos representar nos legislativos estadual e federal e até para o
executivo, como aconteceu com a história política dos ex-prefeitos da Cidade
Morena: Arnaldo Estevão de Figueiredo, Fernando Corrêa da Costa, Wilson Barbosa
Martins, Marcelo Miranda Soares e André Puccinelli, que governaram Mato Grosso
e Mato Grosso do sul com inegável apoio popular.
CIDADE SEM
MEMÓRIA
Diante da
preocupação dos órgãos sustentados pelos cofres públicos, integrantes de todos
os poderes, em enaltecer as “virtudes” daqueles que momentaneamente têm as
chaves do cofre, tornando-os acima de qualquer suspeita, a história da cidade
vai morrendo aos poucos e todos aqueles que participaram da vida pública em
épocas não tão distantes, porém marcante, pois preservaram e tornaram realidade
o sonho de entregando às gerações seguintes uma bela cidade para se viver, esta
metrópole cosmopolita que é nossa Campo Grande. Temo que chegará um dia em que
se perguntarem a um homem de comunicação quem foi Ramez Tebet, Nelson Trad,
Zenobio dos Santos, muitos dirão: São conjuntos habitacionais situados em
regiões distantes do centro da cidade; Pedro Pedrossian? Ah, esta é fácil: é o nome do Estádio abandonado no complexo da
UFMS; Albino Coimbra Filho? “Moleza: É a denominação do Posto de Saúde da Vila
Almeida, que nem médico tem; Antonio Mendes Canale? “Fácil, muito fácil: deve
ser o nome do engenheiro que construiu a nova Estação Rodoviária de Campo
Grande, pois lá tem uma “praca” com o nome dele”; Heráclito Figueiredo
(engenheiro Heráclito José Diniz de Figueiredo)? “Outra muito fácil: é o nome
de uma avenida que é continuidade da Ernesto Geisel”; Dr. Plinio Barbosa Martins?
”Fácil, fácil: nome de uma escola municipal no Jardim das Macaúbas”.
Estes
exemplos são apenas alguns relacionados com uma infinidade de pessoas que
participaram e escreveram parte da nossa história e vão ficando esquecidos e
são reverenciados apenas em homenagens chinfrins que não condizem com o que
eles realmente representam ou deveriam representar para as futuras gerações.
Ramez Tebet, por exemplo foi prefeito de Três Lagoas, deputado Estadual, vice
governador e governador de MS, senador e presidente da República, cargo que
ocupou quando era presidente do Senado; Nelson Trad, o pai, grande advogado
criminalista, vereador e vice prefeito de Campo Grande, cassado pela ditadura
por suas posições políticas corajosas, deputado estadual por dois mandatos e
cinco vezes consecutivas eleito deputado federal por Mato Grosso do Sul; Zenobio
Neves dos Santos, deputado estadual e um dos mais hábeis e éticos parlamentares
que passaram pelo legislativo Estadual; Pedro Pedrossian, o homem de Miranda, é
considerado o maior governador de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com uma
obra muito à frente do seu tempo, e responsável por tirar o velho estado da
estagnação centenária; Albino Coimbra Filho, odontólogo e professor universitário,
vereador, presidente da Câmara Municipal, prefeito de Campo Grande e deputado Federal;
Antonio Mendes Canale foi simplesmente deputado estadual, federal, senador da
República e prefeito por dois mandatos em Campo Grande; Heráclito Figueiredo
conheceu Campo Grande durante uma participação no projeto Rondon e depois de
formado deixou o Estado natal para se radicar na cidade onde constituiu família
e ocupou vários cargos na administração pública, sendo inclusive prefeito da
Capital; Plínio Barbosa Martins foi eleito prefeito de Campo Grande em 1966
depois de ter sido vereador e advogado brilhante, tendo ocupado por concurso o
cargo de auditor da 9ª Região Militar. Homem íntegro que deixou sua marca na
história local.
A nossa
história e nossa cultura vêm sendo relegadas a um segundo plano isto porque os
que assumem importantes cargos públicos não permitem que seus antecessores
sejam lembrados simplesmente porque temem comparações, se esquecendo que amanhã
eles também farão parte do passado e quem não respeita o passado, a história e a
cultura de um povo, não tem futuro.
UMA CIDADE À DERIVA... SEM RUMO
O que ocorre
hoje na Capital de Mato Grosso do Sul, vivendo um verdadeiro caos
administrativo e político jamais visto em sua história, mesmo nos momentos de
graves crises, como ocorreu com o assassinato do prefeito Ary Coelho de Oliveira´,
em 1952, no velho Mato Grosso, ou quando da renúncia do prefeito Marcelo
Miranda que deixou o cargo para assumir
o governo de MS, em 1979, substituindo o engenheiro Harry Amorim Costa , quando
a prefeitura passou a ser administrada por interinos, no caso aqueles que
ocupavam a presidência da Câmara de Vereadores, ou por prefeitos nomeados pelo
chefe do Executivo Estadual, isto porque todos os sucessores, sem exceção e
falsa modéstia, souberam respeitar a liturgia do cargo demonstrando, além de
capacidade administrativa, grande respeito e amor pela cidade e sua gente.
Esta
beligerância imbecil que se verifica no relacionamento entre o prefeito eleito,
afastado e reconduzido Alcides Peralta
Bernal e a Câmara de vereadores, cujos membros foram condenados na mídia e nas redes
sociais antes mesmo do julgamento final pelo poder judiciário, só tem provocado
o descrédito da classe política e da imprensa comandada por aqueles que liberam
as verbas públicas, transformando “aquilo” que já foi considerado o 4º Poder da
República em um simples apêndice dos governos que mesmo eleitos pelo voto
popular agem como ditadores de plantão, caso específico do atual mandato dos
“tucanos” no Mato Grosso do Sul.
Faltando
pouco mais de 90 dias para a eleição municipal, apesar de existir dois candidatos
que estão em campanha aberta há vários anos e uma candidata “abençoada” pela
administração estadual não grande esperanças de que têm condições de tirar a
Capital da estagnação em que se encontra , pois um proclama ser “o Ungido de
Deus”, o outro se considera “o próprio Deus” e a escolhida pelos formuladores
de um projeto que visa implantar um “Rei Naldo tucano” no Mato Grosso do sul
usando artimanhas condenadas por serem aéticas, se apresenta como a “salvadora
da pátria”, sem ter nenhuma experiência administrativa.
A única
esperança que ainda resta é aparecer uma candidatura com proposta séria e
compromisso com a cidade. O último prazo para a realização das convenções para
escolha dos candidatos à Prefeitura e Câmara de Vereadores, que pode marcar o
início de um processo visando recolocar Campo Grande no rumo do desenvolvimento,
é o dia 5 de agosto. Será que vai acontecer alguma surpresa?