(*) Valdir Cardoso
Algo que intriga os observadores mais atentos aos fatos que
envolvem a política sul-mato-grossense é, com ressalvas, a grande rejeição
atestada em pesquisas de opinião pública sofrida pelos outrora poderosos
membros da família Trad – o ex-prefeito
Nelson Trad Filho, o “Nelsinho”, com bom trabalho à frente do Executivo da
Capital por oito anos seguidos; o
deputado estadual Marcos Marcelo Trad, o “Marquinhos”, brilhante orador e
parlamentar atuante no Legislativo estadual; e o advogado, ex-presidente da
Seccional da OAB/MS, Fábio Trad, que durante quatro anos como deputado federal
em Brasilia, foi referência nacional quando o assunto era, em seu único mandato
eletivo (2011/2015), ética, competência e assiduidade nos trabalhos no
Legislativo. Como integrante da bancada federal de MS em Brasilia, ele “perdeu”
o “inho” – Fabinho – diminutivo do seu nome e ganhou notoriedade
nacional, passando a ser o Dr. Fábio Trad, um dos mais atuantes parlamentares do Brasil.
É inegável que individualmente cada um dos irmãos têm uma
avaliação positiva junto ao eleitorado e formadores de opinião, mas quando são
analisados como “um grupo ou clã”, a rejeição, até certo ponto inexplicável,
vai às estratosferas. Nenhum herda os pontos positivos do outro, mas absorve os
erros, tropeços e quedas de um como se fosse uma prática comum entre todos.
A SOMA QUE DIMINUI...
Encontrar virtudes nos três tarimbados políticos e
profissionais competentes não é difícil, tendo em vista os ensinamentos éticos e educação de
altíssimos valores que receberam do núcleo familiar somadas às experiências
vividas desde o início de suas atividades laborais, mas também não se torna
impossível encontrar falhas comportamentais, como em qualquer ser humano, até
porque não absorveram grande parte dos predicados que tornaram o velho Nelson
Trad em um homem transparente, sem ambições e acima de tudo leal aos seus
companheiros políticos, sem nunca precisar recorrer às recomendações paternas,
vindas do também saudoso Assaf Trad, para reafirmar que o cumprimento da
palavra empenhada era um dogma que jamais deixaria de respeitar por toda uma
existência. Simplesmente cumpria, sem fazer estardalhaço até porque entendia
que este comportamento não é nenhuma virtude, mas sim uma obrigação daqueles
que se tornam representantes de uma sociedade.
Certa vez, um curioso amigo da família indagou do então
deputado federal Nelson Trad, durante uma reunião na Biblioteca do chefe do
clã, qual o motivo da rejeição que começava a ganhar força em vários setores da
comunidade contra as suas crias, ao que o sábio parlamentar respondeu também
com uma indagação: “Estão reclamando que implantamos uma oligarquia? Seria
a primeira vez que se implanta tal
sistema através do voto, da disputa eleitoral com aprovação popular”.
Talvez tenha faltado aos três a consciência de que deveriam
descer do pedestal no qual foram colocados pelo eleitor e pelo voto direto.
Faltou humildade, transparência nas atitudes
e reconhecimento que não existe ninguém insubstituível, que a fila anda
e novas lideranças vão surgindo e aqueles que não formarem grupos coesos vão
ficando para trás.
Um dos fatores que fez crescer a rejeição ao grupo pode ter
origem também na inveja de outros “pimpolhos” que não conseguiram tanto
sucesso, mesmo tendo como referência e sobrenome de figuras lendárias de nossa
política, ou ainda pelo acumulo de representação popular em mãos de uma mesma
família. Nós últimos 30 anos o “Pai de
todos”, Nelson Trad, que voltava à
atividade política, se elegendo deputado Estadual (1982), depois de amargar uma
injusta cassação dos direitos políticos que durou 10 longos anos, começou a
implantar o grupo familiar, através do filho mais velho, Nelsinho Trad, que –
com a ajuda decisiva do então deputado André Puccinelli - se elegeu vereador
pelo antigo PTB, sendo o mais votado no pleito de 1992. Reeleito em 1996,
quando Puccinelli conquistou a prefeitura da Capital pela primeira vez, Trad
Filho já estava pronto para vôos mais altos, se elegendo deputado estadual –
sendo o mais votado - e preparando-se para ser io sucessor de Puccinelli,
conquistando dois mandatos consecutivos ( 2004 e 2008).
Já em 2004, surgia Marquinhos Trad, depois de ser secretário
Assuntos Fundiários, com excelente trabalho político-eleitoral à frente do
órgão para o qual foi nomeado pelo então prefeito Puccinelli, gerando a partir
daí uma enorme rejeição dentro do seu próprio partido, o PMDB, cujos
concorrentes não aceitavam a candidatura do irmão do prefeitável Nelsinho na
disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores. Não deu outra, Marquinhos foi o
mais votado entre os mais de 300 concorrentes.
No terceiro mandato de deputado estadual, Marquinhos Trad,
sempre com expressiva votação e tendo o pai como federal, se destacou no
Legislativo, principalmente com atuação forte na defesa dos consumidores, mas
deixou de lado o trabalho de conquistar adeptos entre os colegas de parlamento,
tanto que hoje não conta com o apoio declarado de nenhum dos integrantes da
casa. Não soube “ciscar prá dentro”, partindo para o confronto com a cúpula
peemedebista, acreditando ser superior “ao tempo e ao vento”. No Legislativo
municipal, conta com apoio do sobrinho vereador Otávio Trad, que se comparado
ao meio esportivo ainda está na categoria sub-15, em seu primeiro mandato,
apesar de bem articulado.
ESTÁ FALTANDO ELE...
Na verdade, o que falta ao grupo Trad é um orientador quase
pedagógico, que mostre o “caminhos das pedras”, sabendo que este é o caminho
mais longo, estreito e cheio de armadilhas que só será percorrido com sucesso
com muito trabalho, tendo como verdade absoluta o fato de que “Cateto fora do
bando é comida de onça” e político sem apoio, respaldo de lideranças e
estrutura não vai prá lugar nenhum.
O desejo de mudança que tomou conta de enorme parcela da
população, desaguando na eleição contra tudo e contra todos que levou o
advogado e radialista Alcides Bernal à Prefeitura da Capital nas eleições de
2012, sem estrutura partidária e recursos financeiros é um fato isolado e só
pode ser repetido pelo próprio Bernal, caso concorra mais uma vez ao cargo hoje
ocupado pelo seu ex-companheiro Gilmar Olarte. Esperar que o povo se una em
torno de um nome forte como o de Marquinhos Trad, que deixando o PMDB e mesmo
filiado a outro partido, com certeza de menor expressão, é como acreditar em
“Mula sem Cabeça” ou Sacy Pererê, pois ele acaba levando consigo a “catinga” de
20 anos de poder... com o PMDB.
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