Valdir Cardoso (*)
Aqueles que não conhecem a verdadeira história do advogado
Dagoberto Nogueira, com fraquíssima atuação na área jurídica, que depois de
ocupar cargos importantes nos governos de Marcelo Miranda e do petista José
Orcírio (Zeca do PT), se elegeu deputado estadual, foi candidato a prefeito da
capital, se elegeu deputado federal e perdeu uma eleição para o Senado, devem
ter ficado encantados com o “amor” declarado pelo de novo presidente do PDT, em
entrevista publicada na edição de domingo do jornal Correio do Estado, onde
critica seus “companheiros” deputados estaduais Beto Pereira e Felipe Orro que
manifestaram desejo de disputar a eleição para prefeito de Campo Grande,
chamando-os simplesmente de aventureiros.
Fica a impressão que o parlamentar tem uma larga folha de
serviços prestados à Capital sul-mato-grossense, o que não corresponde à
verdade, pois aqui ele aportou dirigindo um fusquinha com placa da sua cidade
de origem, no interior de São Paulo, se encostando no gabinete do então deputado
estadual Valter Pereira, na época secretário geral do PMDB e, por ironia, pai
do deputado Beto Pereira, um dos parlamentares taxado de “aventureiro”. Valter
dividia o espaço com o também, na época, peemedebista João Leite Schimidt, em
um imóvel localizado na Avenida Afonso Pena, que funcionava como anexo da
Assembléia Legislativa, isto no início dos anos 80.
Mais “quebrado que arroz de terceira”, depois de disputar
pelo PDS e ser derrotado na busca de uma vaga na Câmara Municipal do seu
município de origem, onde era muito conhecido, apoiando obviamente a eleição de
Paulo Maluf para o Governo paulista, “Dagô” chegou em Campo Grande, cidade
recentemente elevada a condição de Capital de Estado e, em consequência,
recebia brasileiros de todas as regiões, dentre os quais trabalhadores,
empressários e até “aventureiros” que procuravam um “lugar ao sol” na terra
onde o mineiro José Antonio Pereira, tri avô do ex deputado e senador Valter
Pereira, chegou em 1872,mais precisamente no dia 13 de junho, para implantar o
povoado que ele batizou de “Santo Antonio de Campo Grande”, que deu origem a
esta maravilha de cidade.
A nomeação de Dagoberto Nogueira como sub-chefe da Casa
Civil do governo de Marcelo Miranda, provocou reações da juventude do PMDB em
virtude da sua origem “arenista”, mas os dois parlamentares – Valter Pereira e
João Leite Schimidt – assumiram a responsabilidade pela indicação e foi por
onde Dagoberto começou a sua escalada social, econômica e política, principalmente depois de assumir
a direção geral do DETRAN no governo petista, de onde saiu carimbado com uma
série de processos por “suspeita de malversação de dinheiro público”, que ainda
estão em andamento ou já prescreveram junto a alguma instância do Poder
Judiciário.
Como ocupante de cargo comissionado nos governos do PMDB e
do PT, sub-chefia da Casa Civil, Secretaria de Segurança e DETRAN/MS, Dagoberto deve ter sido o “aventureiro” mais
bem pago da história do nosso combalido Mato Grosso do Sul, principalmente
quando passou pelo comando do órgão estadual do trânsito, onde entrou com “uma
mão na frente e outra atrás”, sem ter uma cachorrinha vira-latas para para
puxar pela corrente e saiu como próspero fazendeiro, mesmo sem ter experiência no difícil ramo da pecuária,
fazendo inveja a tradicionais pecuaristas que vivem ameaçados pelos altos juros
bancários e pelas invasões de suas centenárias propriedades rurais.
“As vacas do deputado Dagoberto devem ganhar todos os
prêmios de alta produtividade e a prenhês deve ser em torno de 100% ( ... ou
mais) e sua prudução deve gerar bezerros que com 12 meses já pesam mais de uma
tonelada”, comenta um incrédulo e tradicional pecuarista, na fila do Banco do
Brasil para “reformar” um empréstimo junto ao banco oficial.
A diferença entre “aventureiros políticos/pecuaristas” e
tradicionais são enormes em termos de sucesso econômico financeiro, pois a
maioria dos pecuaristas que entram na política, quando terminam o mandato são
forçados a desfazer de bens de raís, pois deixam de cuidar de suas propriedades
e rebanhos ( O olho do dono é que engorda o boi) e também porque o que ganham
não cobrem as despesas familiares, pois, honestos, vivem dos rendimentos
legais e não rtecebem propinas.
Para confirmar esta tese há um fato pouco conhecido da
população mais jovem do nosso Grosso do Sul, ocorrido com o ex-prefeito Plínio
Barbosa Martins, um dos políticos mais probos da nossa história, quando
encerrou o seu mandato como primeiro prefeito eleito pelo MDB ( não confundir
com PMDB), em 1970. Filhos estudando fora, sem poder advogar, viveu durante
todo o seu mandato se desfazendo de gado e outros bens para manter o custeio da
sua família, culminando com a venda de uma propriedade na região próxima ao
Distrito do Ahanduy para pagar dívidas contraídas durante o período em que
governou Campo Grande. Preocupados, irmãos ( Ênio e Wilson, primos, entre eles
Jair Barbosa Martins (proprietário das Loja Liege Tecidos, na Rua Dom Aquino) e
amigos – Plínio Soares Rocha e Amantino) se reuniram para impedir a venda da
propriedade rural, mas tiveram a oferta de ajuda recusada educadamente por
Plínio Barbosa Martins, que com aquela sua voz característica do
sul-mato-grossense indagou: “Quando eu assumi tais compromissos eu os
consultei? E sem tempo para ouvir a resposta, levantou-se e deu a reunião por
encerrada, afirmando ainda: “O compromisso é meu, pago eu”. Este episódio é relatado pelo advogado
Amantino Soares Rocha,
amigo e colega do Dr. Plínio no escritório da Rua 15 de
Novembro.
O que se vê hoje é o “cidadão” fazer fortuna em um curto
período e exatamente durante o tempo em que exercem um único mandato ou quando
ocupam um cargo de secretário ou diretor de autarquia e depois se julgam no
direito de chamar filhos da terra de “aventureiros”.
Citei o caso do Dr. Plínio Barbosa Martins porque um dos
maiores orgulhos que carrego comigo é o de ter começado minha vida pública como
candidato a vereador em Campo Grande pelas mãos deste admirável homem público,
que trouxe também o apoio de outras figuras do mesmo valor ético e moral: Dr. Hélio
Mandeta e Dr. Nelson Buainain, isto em 1972, quando obtive 1.007 votos em um
colégio eleitoral com 36 mil votos válidos.
Mas, voltando ao caso dos “aventureiros” citados pelo
deputado Dagoberto Nogueira devo esclarecer ao “aventureiro que não aceita concorrência”,
que o deputado Beto Pereira, além de ser um descendente direto do fundador da
cidade, aqui nasceu, passou toda a sua juventude e se preparou para ser um
autêntico representante dos seus conterrâneos, de Campo Grande ou de Terenos, e
que também é neto de um pecuarista tradicional com propriedade rural em Terenos (na barra do
rio Ceroula), que é o sr Alonso Honostório de Resende (família pequena, deputado
Dagô?). Já o deputado Felipe Orro, filho do grande parlamentar que foi Roberto
Moacar Orro, ex-presidente da Assembléia Legislativa, é neto de Fernando Alves
Ribeiro (Tico Ribeiro), prefeito de Aquidauana e deputado federal do nosso Mato Grosso uno, bem antes da chegada de alguns verdadeiros “aventureiros”; bisneto do Cel. Zelito e tri neto do lendário Cel. Jejé. O deputado Felipe Orro
também foi prefeito de Aquidauana e tem fortes ligações com a
nossa cosmopolita cidade, que não discrimina os “chegantes”, aventureiros ou
não.
Em relação ao governador Reinaldo Azambuja, informo ao parlamentar nascido
no “interiorr” de São Paulo que ele não veio “de fora” para disputar
a prefeitura da capital, pois nasceu em Campo Grande e foi a tradicional cidade
de Maracaju que escolheu, sem nenhum constrangimento, o campo-grandense para
ser o seu prefeito.
Creio que já gastei até demais tempo, usando o meu
conhecimento histórico, sem falsa modéstia, para chamar o parlamentar Dagoberto
Nogueira à realidade. E ele não me representa, com certeza.
(*) O autor é jornalista há 45 anos. Foi vereador,
presidente da Câmara Municipal, prefeito de Campo Grande e deputado estadual.