Valdir Cardoso (*)
Catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas em conseqüência da degradação do meio ambiente e ausência de obras de contenção de enchentes nos períodos chuvosos castigaram não só Campo Grande como também Belo Horizonte (MG), Jundiaí (SP) e outras inúmeras cidades brasileiras. Os prejuízos materiais sofridos pela população e o desaparecimento de um motociclista dragado pelas águas que inundaram a região do Bairro Universitário, são maiores do que o dinheiro investido pela prefeitura, recurso, na verdade, oriundo em grande parte dos cofres da União.
Forte chuva causa inundações em vários pontos da Capital. (Foto: Reprodução do Facebook)
Estas medidas diminuiriam muito os riscos de enchentes na região do Shopping Campo-Grande como também na Avenida Fernando Corrêa da Costa, que passaram a ocorrer somente após a constatação do assoreamento do grande lago do Parque das Nações Indígenas, sem que providências tenham sido tomadas no passado.
A origem do assoreamento – nome técnico que se dá ao processo acelerado da sedimentação de detritos em áreas rebaixadas, caso específico dos lagos- acontece em razão de um processo natural, decorrente da erosão que é agravada e acelerada devido a vários fatores, dentre os quais a ocupação do espaço geográfico pelo homem, falta de cuidado com o meio ambiente e a cobertura asfáltica que impermeabiliza o solo, bem como a ligação do esgoto doméstico às galerias de águas pluviais, fato corriqueiro principalmente nos bairros e vilas que margeiam os córregos Prosa, Segredo e Ahandui, onde a população sempre utilizou as galerias para escoamento de todo tipo de detritos.
É óbvio que ouvimos técnicos especialistas sobre o assunto e tivemos também acesso a informações junto aos poderes públicos, para fazermos uma análise responsável, sem paixão, isto porque não é possível admitir que um prefeito que tem uma equipe, que ele diz ser competente, não tenha sido alertado de que no período de fortes chuvas não era o momento adequado para iniciar e não concluir uma obra de contenção, que acabou por agravar o problema.
Na verdade não é hora de se criticar a atual ou administrações anteriores da Capital em virtude de uma catástrofe provocada por chuvas acima do normal, mas é bom que se diga que Campo Grande teve uma década perdida, em termos de saneamento básico, entre os anos de 1983 e 1993, quando os investimentos foram insignificantes e obras chinfrins – caso específico da canalização do córrego Prosa, na Avenida Fernando Corrêa da Costa - foram feitas a toque caixa, cuja vazão não suporta o volume que deságua no canal coberto que divide as duas pistas da citada Avenida- em saneamento, provoca, sem dúvidas, o alagamento na região do Shopping Campo Grande. Outra obra da mesma época canalizou parte dos córregos Ahandui e Segredo, impermeabilizando o solo, ao longo da Avenida Ernesto Geisel.
Como este texto está voltado para um problema que aflige a todos os habitantes dessa cidade e não tem nenhum cunho político, sendo baseado apenas na vivência de um campo-grandense que acompanhou muito de perto o crescimento da capital sul-mato-grossense durante as últimas quatro décadas, é preciso afirmar que não adianta postulantes a cargos eletivos – que não é o meu caso – tentarem tirar proveito de uma situação constrangedora pela qual passam os atuais administradores de Campo Grande, prefeito, vereadores e secretários municipais.
Por outro lado é preciso reconhecer que as ações iniciadas na administração do ex-prefeito André Puccinelli, antecessor de prefeito Nelsinho Trad, quando foi acelerado o processo de desfavelamento das margens do Córrego Ahandui e adjacências, forçando os moradores a se mudarem para casas construídas pela Emha – Empresa Habitacional do Município – evitou-se uma catástrofe muito maior que poderia estar ocorrendo nos dias de hoje, pois muitas famílias ficariam submersas nas favelas e inúmeras vidas preciosas seriam ceifadas, o que daria subsídios aos “políticos urubus” que viriam a público “comemorar”, em forma de lamentos, os efeitos da grande tragédia. Perderam a chance...
E por não ter – e nem quero – procuração para defender este e muito menos aquele – posso afirmar que não é hora de jogar pedras, mas sim de recolhê-las para construir uma cidade melhor e livre das enchentes.
(*) O autor é jornalista e foi Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Saúde (MS), presidente da Câmara Municipal, deputado estadual e prefeito de Campo Grande. É editor do Site http://www.ojornalms.com.br/
Quanto à obra de canalização do córrego prosa, é fato que antes de ser executada aquela região próxima ao fórum sempre transbordava e alagava a região! Na minha opinião (não sou nenhum técnico no assunto) essa obra deveria ser realizada em toda extensão do córrego prosa, e não somente, mas em todos o córregos da cidade, levando-se em conta todas as implicâncias ambientais disso!
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